Diz um provérbio
árabe que reflete a atitude do muçulmano perante a vida: "a lentidão é de
Deus, a pressa é de Satanás", o que nos leva à seguinte reflexão: como as
máquinas devoram o tempo, o homem moderno está sempre apressado, e como essa
perpétua falta de tempo cria nele reflexos de pressa e de superficialidade, o
homem moderno toma esses reflexos — que compensam uma série de desequilíbrios —
por superioridades, e despreza, no fundo, o homem antigo de hábitos "idílicos" e
sobretudo o velho oriental de andar lento e turbante longo para enrolar. Já não
se consegue representar, por falta de experiência, qual era o conteúdo
qualitativo da "lentidão" tradicional, ou como "sonhavam" as pessoas de outrora;
o homem de hoje contenta-se com a caricatura, o que é muito mais simples e lhe é
mesmo exigido por um instinto ilusório de conservação. Se as preocupações
sociais — de base evidentemente material — determinam em tão grande parte o
espírito da nossa época, isso não se deve apenas às consequências sociais do
maquinismo e às condições inumanas que ele engendra, deve-se também à ausência
de uma atmosfera contemplativa que, no entanto, é necessária para a felicidade
dos homens, seja qual for o seu "padrão de vida", para empregar uma expressão
tão bárbara quanto usual.
Frithjof Schuon
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