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quarta-feira, 1 de abril de 2015

O cerne da crise da maçonaria no Brasil

O cerne da crise da maçonaria no Brasil
 
 
 
José Filardo, M.´. M.´.
 
 
Qualquer análise da crise da Maçonaria precisa levar em conta que ela não é a única instituição que está perdendo membros ou que perdeu o apelo às novas gerações. Mas, no que nos concerne, é preciso discutir essa crise para tentar, senão resolvê-la, pelo menos reduzir sua intensidade ou interromper suas consequências.
 
 
Um problema de natureza geral afeta a Maçonaria e, particularmente o GOB, por sua pluralidade de ritos e rituais. Mister que seja dito que a pluralidade de ritos e rituais, em que pese seu caráter distrativo em relação à ação que se espera dos maçons, tem um caráter cultural importantíssimo, vez que sua existência nos diferencia de outras associações, ou seja, sem ritual e rito não existe maçonaria. O problema reside na metodologia de recrutamento de novos membros que precisaria ser revista no GOB especificamente. Cada rito tem suas características e que apelam a diferentes personalidades. Assim, o ideal seria que o candidato tivesse a opção de escolher aquele que melhor se ajusta aos seus interesses. Ele deveria passar por um seminário sobre os ritos, definir sua preferência e só então ser encaminhado a uma loja daquele rito mais próxima do endereço de sua residência.
 
 
Do ponto de vista geral, como instituição, entendo que as origens da presente situação remontam à crise criada pelo Renegado em 1927, quando a cisão dos supremos conselhos do REAA (que diga-se de passagem, em minha opinião nada têm a ver com Maçonaria) fraturou o edifício da maçonaria e provocou seu desabamento. Por falta de tato e excesso de paixão, aquela crise poderia ter sido resolvida simplesmente com a separação entre o Simbolismo e os Altos Graus, entregando o Supremo Conselho ao Renegado e retendo o controle do GOB sobre o Simbolismo. Isso teria evitado a divisão que se seguiu e que acarretou nas funestas consequências que testemunhamos hoje.
 
 
Lemos na excelente “Pequena História da Maçonaria no Brasil” do Ir.´. William de Carvalho (http://bibliot3ca.wordpress.com/pequena-historia-da-maconaria-no-brasil-william-almeida-de-carvalho/):
 
 
“Até a primeira cisão de 1927, a história da Maçonaria brasileira se confundia com a história do Brasil. A partir de então, ou seja, no momento em que a Maçonaria deixa de ser um grupo estratégico, a história se bifurca, seguem rumos paralelos, com alguns contatos ocasionais. A partir da gestão de Jair Assis Ribeiro (1983-1993) no GOB assistiu-se a um ponto de inflexão do desenrolar da Maçonaria brasileira. Atualmente cresce a taxas chinesas, mas ainda não voltou a ser um interlocutor estratégico do país, como fora no passado”.
 
 
Qual é, portanto, a diferença da Maçonaria de então e a Maçonaria atual?
Vamos abstrair nesse exercício a mudança cultural ocorrida em todos esses anos em relação ao exercício da política. Não podemos esquecer que no século passado estivemos submetidos a duas ditaduras, com suas polícias brutais e suas lamentáveis ações no sentido de matar a militância política e evitar o surgimento de lideranças. Ou seja, o brasileiro tinha muito mais gosto pela política antes da década de 30 do que tem agora.
A meu ver, na Maçonaria, a diferença está na mudança de foco – da realidade social e ação política na sociedade, para o rito, a loja e a política interna. A mudança de enfoque foi provocada, principalmente, pelo deslocamento de ritos que outrora eram marginais para o centro do palco, ritos que por sua riqueza simbólica e elaborada distraem os maçons da ação política e social que caracterizava a maçonaria pré-1927 e que, ausente nos dias atuais, leva os novos membros da ordem ao desencanto e à decepção, vez que são atraídos pela imagem pública criada pela ação daquela Maçonaria, cantada em prosa e verso, e descobrem – depois de suas iniciações e um curto prazo no primeiro grau – que se trata de uma imagem apenas, sem o conteúdo correspondente.
 
 
Até 1927, o rito do GOB por sua estrutura enxuta e despojada, quase ascética, servia aos propósitos dos maçons, ou seja, com ele abria-se a loja, lia-se a ata para informação de eventuais ausentes à reunião anterior, e partia-se para uma ordem do dia significativa, em que eram discutidos (geralmente em família), por vezes, até os destinos da nação, e a loja era fechada. Não havia distrações, o rito não era encarado como um exercício em si e privilegiava-se a ação fora de loja. A Maçonaria era um meio de se atrair e congregar lideranças políticas, empresariais, sociais, etc., não a prática de rituais.
 
 
Desde 1927, porém, vem-se tentando reconstruir o edifício da Maçonaria, mas perdeu-se de vista aquele objetivo original. Nessa nova construção, os maçons se perdem enfeitando capitéis (ou rituais), volutas, decorando suas “alas” ou “capelas” como se fossem sistinas e o edifício, na falta de um partido arquitetônico único vai assumindo a feição de um Frankenstein. Um grupo quer construir em forma de pirâmide, outro em forma de castelo medieval, outro em estilo “nyemariano”, outro em forma de catedral gótica ou neogótica, mais um em estilo expressionista, e outro em estilo bizantino. No final temos um edifício onde todos estes estilos são usados e o resultado não é nada estético.
 
 
Conversando com um irmão que agora é meu parente, no sábado, eu dizia: você é escocista, grau 33 eu sou modernista grau 3. Agora, tirando tudo: rito, parentesco, filiação política, cosmovisão, raça, credo, nacionalidade, o que sobra entre nós se chama maçonaria. Maçonaria, portanto, é aquele relacionamento, aquele elo invisível criado na iniciação e a vontade de realizar alguma coisa em prol da sociedade juntos, usando nossa força combinada, nossos conhecimentos, nossas relações para alavancar essa ação. Não é um visitar a loja do outro apenas. Não é ficar batendo martelo, discutindo sexo dos anjos e comendo pizza. Os maçons estão perdidos nos corredores labirínticos desse monstrengo arquitetônico, distraídos com aventais coloridos, colares vistosos, medalhinhas e homenagens, jogos de poder, enfim, com os detalhes da decoração, enquanto lá fora há um enorme trabalho de arar a terra, semear valores e com eles alimentar a humanidade; defender os injustiçados, defender a comunidade. Assim, eu atribuo a crise da maçonaria à falta de objetivos fora de loja. O novo edifício rococó e disforme não tem apelo entre os jovens.
 
 
Isso posto, gostaria agora de abordar a questão específica da crise da maçonaria nos grandes centros.
 
 
Tomemos como exemplo uma loja de uma pequena cidade onde praticamente todas as autoridades e lideranças podem ser encontradas na loja. A capacidade de intervenção e ação política e social da loja é exponencialmente incrementada. O risco – e isso acontece com maior frequência do que seria ideal – é o “aparelhamento” da loja por grupos políticos. Sou caipira, e no interior não temos adversários políticos, sempre temos inimigos políticos. A terminologia é importante. Em um caso que conheço, uma facção partidária da cidade assumiu o controle da única loja das Grandes Lojas, passando a iniciar somente os “nossos” e alienando as outras, ou a outra facção partidária na política local. Muito como Montechios e Capuletos. O curioso é que existe uma loja do GOB na cidade, que não conta com membros residentes nela. Foi criada por uma “canetada” de algum Grão Mestre, com o objetivo de demonstrar publicamente uma “expansão” no número de lojas, e essa loja – composta de irmãos de cidades vizinhas e que se reúne em uma terceira cidade – falhou em atrair lideranças na própria cidade, que poderiam ser os membros da facção alienada da loja das Grandes Lojas. Caso isso tivesse ocorrido, poderia ocorrer também uma “maçonização” da política local, vez que em determinados momentos a irmandade poderia prevalecer sobre divergências políticas. No mínimo, teríamos uma disputa mais ética.
Em centros maiores onde existem muitas lojas, eu atribuo o problema à heterogeneidade do quadro das lojas, uma heterogeneidade em sentido espacial. O ideal seria que o “padrinho” encaminhasse o candidato ao Grande Oriente ou Grande Loja e ali fosse realizado o processo de admissão e, se aprovado, o encaminhamento do candidato ao rito mais ajustado à sua personalidade e à loja mais próxima de sua residência. Ironicamente, esta é uma regra que, lembremos, existia nos primórdios da maçonaria especulativa em Londres.
 
 
Diferentemente das comunidades menores, onde os problemas existentes afetam a todos os irmãos da loja, nos grandes centros, diferentes regiões das cidades têm problemas que afetam os cidadãos de maneiras e em graus diferentes. Se os candidatos fossem admitidos em lojas próximas à sua residência, todos os irmãos da loja teriam motivações comuns para atuar na comunidade, aumentando assim a probabilidade de restabelecimento do espírito pré-1927. Nas comunidades menores existem resquícios desse espírito. Infelizmente, as distrações dos rituais e ritos embotam os irmãos e os desviam de uma ação maçônica efetiva.
 
 
Se escolhermos aleatoriamente uma loja de São Paulo, por exemplo, e plotarmos a localização da residência dos irmãos daquela loja no mapa da cidade, as chances são de que teremos alfinetes coloridos distribuídos por toda a região metropolitana e, em alguns casos até mesmo fora dela.
Ora, os únicos problemas que aqueles irmãos terão em comum serão questões fora do alcance da loja, ou seja, para a solução dos quais as lojas isoladamente pouco podem fazer. São coisas como violência, transporte público, políticas estaduais e metropolitanas, etc.
 
 
Porém, se as lojas tivessem como regra a admissão de irmãos dentro de um espaço geográfico delimitado, por exemplo no caso de São Paulo, em nível de sub-prefeitura ou de bairro, os membros da loja teriam problemas e questões em torno dos quais se mobilizar, visto que todos seriam afetados mais ou menos igualmente por aqueles problemas e questões.
 
 
As lojas assim constituídas criariam uma associação local nos moldes da ASSOVIO http://assovio.wordpress.com/ através da qual atuariam em seu espaço geográfico. Essa associação seria totalmente desvinculada da loja, em todos os sentidos, exceto quanto ao apoio e orientação legal, financeira, coordenação, troca de experiências com outras Assovios, etc. Serviria ainda para congregar a comunidade expandida da loja e, com base no networking dos irmãos atuaria com grande eficiência.
 
 
Não preconizamos aqui a dissolução das lojas atuais. Seriam criadas lojas especiais para as quais seriam convidados irmãos residentes no “distrito” daquela loja. O problema do rito seria contornado com o retorno ao rito tradicional do GOB, o rito sobre o qual nos fala o Ir.´. Joel Guimarães de Oliveira em seu trabalho: http://bibliot3ca.wordpress.com/ritual-da-r%E2%88%B4l%E2%88%B4-de-s-joao-commercio-e-artes-na-idade-de-ouro-1822/. Irmãos de potências diferentes poderiam atuar juntos através da Assovio.
 
 
Dessa forma, resgataríamos a Maçonaria brasileira e ofereceríamos uma perspectiva de retorno ao papel que desempenhou na sociedade brasileira e, naturalmente, alterações no processo de recrutamento, em que a ênfase seja colocada no grau de liderança do candidato, na sua capacidade de influenciar a sociedade, muito mais do que se ele acredita ou não em um ser supremo.
 
 
 
 
 Luiz André Barra Couri
 de Santos Dumont - Minas Gerais


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