ATO II
O ato inicia num bosque
com a presença de desenhos estranhos e uma pirâmide truncada ao fundo. Dezoito
sacerdotes se posicionam em três pontos da cena, à esquerda, à direita e ao
fundo.
Sarastro, de pé ao
centro, abre a reunião anunciando: “ Iniciaremos neste Templo da Sabedoria,
servos de Ísis e Osíris. Com alma pura eu declaro a todos vós que esta
assembléia é uma das mais importantes do nosso Templo. Tamino, filho de um rei,
vinte anos de idade, está à porta de nosso Templo.” Três dos sacerdotes se
levantam, um a cada vez. O primeiro questiona: “Ele é virtuoso?”
pergunta o primeiro. “Ele
é discreto?” pergunta o segundo. “É um homem caridoso?” pergunta o terceiro.
Sarastro responde
afirmativamente a todas as questões e pergunta se todos concordam com a iniciação,
devendo manifestar-se erguendo uma das mãos. O grupo de sacerdotes que se
encontra à esquerda o faz e mantém-se assim enquanto a orquestra entoa uma nota
constante. A seguir, o mesmo para o grupo que está à direita e, finalmente, o
grupo que está ao fundo, pontuados por uma mesma nota cada, totalizando três
toques. Sarastro encerra a reunião cantando uma ária em que invoca a proteção
de Ísis e Osíris.
Os dois iniciandos estão
prontos para o cerimonial. Este tem início com Tamino e Papageno conduzidos por
um sacerdote cada um, no átrio do Templo. Desvendado, Tamino reafirma sua
intenção de galgar a sabedoria e ter como recompensa o amor de Pamina. Quando
questionado pelo Orador, emite respostas simples, firmes e diretas. Papageno
contudo, questionado pelo sacerdote, manifesta-se apenas ansioso pelos prazeres
da vida: “comer, dormir e beber. Isto é bastante para mim. Se possível, ter uma
bela esposa.” O Orador dá a palavra final: aconteça o que acontecer daqui para
frente ambos terão de manter silêncio absoluto. Se violarem esta ordem estarão
perdidos. Orador e Sacerdote previnem a ambos quanto às malévolas tentações
femininas. Logo que estes saem, deixando os dois sozinhos com suas meditações,
entram as três Damas da Rainha da Noite que advertem os dois sobre o perigo que
correm se permanecerem naquele lugar. “Tamino, certamente a morte o aguarda.
Papageno, você está
perdido para sempre.” Apavorado, Papageno começa a tagarelar e é por várias vezes
repreendido por Tamino que lhe faz recordar o que ambos prometeram aos
sacerdotes. Diante das três Damas, Tamino mantém silêncio e elas se vão. A
prova termina com os sacerdotes entrando em cena e informando que
Tamino vencera aquela etapa.
Na cena seguinte, vemos
Pamina a ser preparada para a sua Iniciação. Pamina está adormecida no jardim
do palácio de Sarastro. Monostatos surge para mais uma vez tentar seduzir a
jovem. Canta a sua paixão pela beleza da princesa. A Rainha da Noite surge em
meio a trovões fazendo Monostatos esconder-se amedrontado. Ao perguntar a
Pamina sobre o destino do jovem que ela lhe havia enviado a filha retruca que
este será iniciado na fraternidade de Ísis e Osíris. Percebendo a gravidade da
situação a Rainha, sabedora de que Pamina também está enredada pela
fraternidade dos iniciados, entao a
magnífica “Ária da
Vingança”, um desafio para a soprano que o interpreta. Extravasa toda a sua cólera
contra Sarastro e seus seguidores. Entrega um punhal à filha com a recomendação
de que assassine seu inimigo mortal. A Rainha da Noite desaparece tão
misteriosamente como havia surgido.
Monostatos, que se ocultara
diante da aparição da Rainha, reaparece e toma o punhal das mãos da princesa
ameaçando-a caso não se entregasse a seu apetite sensual. Exatamente no momento
em que ele tenta possuir a jovem, Sarastro entra em cena, compreende o que se
passa e repreende Monostatos. Este sai, ficando Sarastro e Pamina a sós. Este
revela a Pamina que já conhecia os planos de vingança da Rainha da Noite contra
ele e a fraternidade de Ísis e Osíris. De sua parte, numa bela ária, Sarastro
mostra quais são as armas de que dispõe para derrotar a Rainha:
“Em nosso sagrado templo,
A vingança é desconhecida,
E aqueles que se desviam do
dever
O caminho lhes é mostrado
com amor
Com ternura são levados pela
mão fraterna
Até encontrarem, com alegria,
um lugar melhor
Dentro de nossa sagrada
maçonaria,
Por laços de amor estamos
unidos
Cada um perdoa o seu
próximo
Aqui não há traição
E aqueles que desprezam
este nobre plano
Não merecem ser chamados
de homem.”
Com esta ária, de forma
serena e firme, Sarastro ressalta a diferença entre o que a Rainha da Noite diz
e o que a fraternidade de Ísis e Osíris realmente representa. Pamina conhece
agora a face da verdade:
A crueldade e os
propósitos de vingança da Rainha da Noite estão em vivo contraste com a
serenidade e o equilíbrio, temperados com o mais sincero amor fraternal
revelados por Sarastro.
Aqui se
encontrao clímax da ópera, a universal confrontação da Luz contra as Trevas.
Na próxima cena, Tamino
e Papageno prosseguem em suas provas. Ambos devem continuar guardando o mais
absoluto silêncio, conforme recomendação do Orador e do Sacerdote. Para Papageno
um teste estranho: surge a seu lado uma mulher muito velha coberta por um capuz
e uma longa capa que, ocultando sua face e suas formas. Puxando conversa com
ele e revela que tem dezoito anos e que seu namorado se chama Papageno. Vai
revelar o seu nome quando desaparece num alçapão. Espantado, puxa conversa com
Tamino, que sucessivas vezes o repreende. Tamino será submetido à prova ainda
mais difícil: Pamina entra em cena e lhe dirige palavras de amor, mas ele está impedido,
por seu juramento de silêncio, de dirigir-lhe a palavra. Ambos sofrem muito com
esta situação.
Tamino desejaria
falar-lhe, mas está impedido. Pamina julga, desconcertada, que Tamino lhe
renega seu amor. Chorando convulsivamente, deixa a cena com Tamino sofrendo
muito pela dor que, involuntariamente, impôs à princesa.
Seguem as provas. Agora,
no interior do Templo, Sarastro e outros sacerdotes entoam um coral em louvor a
Ísis e Osíris. Tamino e Pamina são trazidos à sua presença. Faz-se silêncio em
toda a assembléia. Sarastro previne a ambos que ainda deverão se submeter a
outras provas. O casal deve despedir-se com um adeus pois agora o príncipe deve
submeter-se à prova final – e seu futuro é incerto.
Papageno também entra em
cena e o sacerdote que o acompanha lhe diz que, embora não tenha sido bem
sucedido na prova anterior, os deuses estavam dispostos a satisfazer-lhe um
desejo. Ele pede um copo de vinho. A seguir recorda-se, numa alegre ária,
Papageno canta seu maior anseio maior: que lhe seja concedida uma
bem-amada, tão ansiosamente aguardada. A mesma velha de antes surge e informa
que ele tem duas alternativas: casar-se com ela ou morrer. Ele se decide a
aceitá-la e, como por encanto, ela se transforma numa jovem linda, a Papagena.
Papageno corre a abraçá-la e é contido pelo sacerdote que lhe
adverte: “Afaste-se, jovem! Você ainda não tem este direito!” E sai com a bela
jovem deixando Papageno só e desolado.
Pamina, por sua vez,
encontra-se num aprazível jardim envolvida por pensamentos melancólicos.
Não tem certeza do amor
de Tamino e, sentindo-se abandonada, pensa em suicidar-se utilizando o punhal
que a mãe lhe dera. Surgem os três Gênios da Floresta, que buscam dissuadi-la
daqueles maus pensamentos com a revelação de que Tamino está se submetendo a
provas a fim de se unir a ela. Eles recomendam que Pamina os siga e verá Tamino
em sua prova final.
Tamino está próximo ao
Templo, onde se vêem duas cavernas – uma de cada lado do palco – com um portão
gradeado. No centro, uma escada conduz a uma porta onde estão postados dois guardas
armados. Os guardas cantam em dueto:
“Aquele que andar
Por estes caminhos
Cheios de dificuldades,
Terá de passar pelas provas
Do fogo, da água, do ar e da
terra
E, se vencer
O temor da morte
Como que deixará a terra
Em direção ao brilho do céu.
Iluminados, coração e mente,
Empenhar-se-ão pelo direito
E no sagrado rito de Ísis
Encontrarão a verdadeira
luz.”
Os dois guardas,
avisando-lhe dos perigos, exortam à coragem de Tamino e Pamina no início destas
provas. Tamino segue firme em seu propósito e informa que nenhuma ameaça pode
amedrontálo.
Tamino prepara-se para
enfrentar a primeira prova, a prova do fogo. Pamina se aproxima dele para
participar também desta prova. Ambos entram na caverna por onde saem labaredas
de fogo.
Tamino, tocando a Flauta
Mágica, passeia com desenvoltura em companhia de Pamina, pelas chamas que vão
desaparecendo. A seguir atravessam por uma torrente de águas como de uma grande cachoeira sem que nada
lhes aconteça, graças ao mágico som da Flauta. Ao retornarem vitoriosos são saudados
por um coral de sacerdotes, Sarastro à frente, que se rejubilam com os
iniciandos.
Próximo dali, Papageno
ainda está atormentado, desconsolado sem a sua sonhada bem-amada. Canta com
saudade e diz, diante de uma forca, que contará só até três para que Papagena
reapareça.
Papageno está prestes a
suicidar-se quando surgem os três Gênios da Floresta que exortam-no a tocar seu
“glockenspiel” e assim fazer com que Papagena volte. Ele se recorda de seu
instrumento mágico, toca-o e Papagena surge magicamente, tendo início o
delicioso dueto “ Papagena-Papageno.”
Na cena final vemos a
chegada da Rainha da Noite, das três Damas e de Monostatos, que havia passado
para o lado da Rainha a fim de, usufruindo de seus poderes mágicos, chegar a
seu intento:
seduzir Pamina. A
Rainha, ensandecida ao ver Pamina e Tamino agora iniciados e membros da fraternidade
que odiava, tenta invadir os domínios dos iniciados para derrotá-los
definitivamente.
Chegam em meio a densa
treva, os invasores portam tochas. Nesse instante, tem lugar uma grande tempestade,
com raios e trovões, que obriga os invasores a se dispersarem. A noite vai aos
poucos dando lugar à aurora. O sol surge e o ambiente ganha cada vez mais luz.
Sarastro, o Grande Sacerdote, surge cercado pelos
irmãos e sacerdotes e canta:
“A glória do Sol dourado
Conquistou a noite.
O falso mundo das trevas
Conhece agora o poder da
luz .”
Um majestoso coral encerra a ópera com louvores a Ísis e Osíris e aos iniciados:
“ Salve, novos iluminados!
Passastes pela noite
Louvamos a ti, Osíris.
Louvamos a ti, Ísis.
Pela força são vitoriosos
São dignos da coroa
A beleza e a sabedoria
Haverão de iluminá-los"
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