ATO I
“Hilfe!”, “Hilfe!”, “Hilfe!” – A ópera
começa com a entrada de Pamino, esbaforido, gritando por socorro num bosque
desconhecido. Antes de entendermos do que foge, esta maneira de começar a peça
musical denota o estabelecimento de uma marca: vamos entrar num terreno iniciático,
diferente do cotidiano regular.
Papageno Fugia de uma enorme serpente,
pronta para devorá-lo. Acaba desfalecendo e é salvo por três Damas da Rainha que
o observam em segredo e correm a dar a notícia de sua chegada ao reino da
Rainha da Noite. Entrementes, um caçador de pássaros, Papageno, entra em cena e,
vendo a carcaça da serpente acaba assumindo a autoria da salvação diante
de um atônito Tamino.
Quando este se encontra no auge de sua fanfarronada, chegam as três Damas novamente, bem a tempo de pegá-lo mentindo. Papageno e castigado e elas, na condição de portavozes da Rainha da Noite, dão as boas vindas a Pamino e contam a história de Pamina. A jovem e bela princesa, filha da Rainha da Noite, seqüestrada pelo perverso Sarastro, um poderoso feiticeiro, em cujo castelo a mantém cativa. Elas entregam um retrato de Pamina enviado pela própria Rainha da Noite a Tamino, que imediatamente se apaixona pela beleza da princesa.
Tamino canta uma ária em louvor à
beleza de Pamina. Nisso a Rainha da Noite, um ser sobrenatural que usa um
véu negro, surge diante dele. Ela confirma a história contada por suas três Damas,
fala da perda de sua filha para Sarastro e roga a Tamino que liberte sua filha
das garras de Sarastro. Apaixonado, Tamino decide empreender a tarefa
imediatamente.
A Rainha, usando seus poderes mágicos oferece ao príncipe uma arma:
uma flauta dotada também de poderes sobrenaturais. Sempre que enfrentar quaisquer
perigos bastará tocar esta flauta mágica que todos os obstáculos serão
vencidos. A Rainha recruta ainda Papageno para auxiliar Tamino nesta tarefa e
lhe dá como arma um “glockenspiel”, um pequenino carrilhão que imita
sons de sinos. Como auxiliares em sua longa jornada, ambos contarão ainda com
três Gênios da Floresta que os ajudarão a encontrar Sarastro e Pamina, assim
como a superar dificuldades que surjam. Saem os heróis principais, armados com
seus instrumentos, guiados pelos três Gênios da Floresta.
Pamina é mantida
prisioneira sob a guarda de três escravos liderados pelo mouro Monostatos, serviçal
de Sarastro. Monostatos a deseja e, dominado por intensa sensualidade tenta por
todos os meios seduzir Pamina. No interior do palácio, Monostatos avança mais
uma vez sobre Pamina quando Papageno entra em cena. Ambos se assustam. O mouro
foge da presença da estranha figura do caçador de pássaros. Pamina, aliviada do
assédio de Monostatos, conversa com Papageno, que se apresenta como embaixador
da Rainha da Noite – fazendo a princesa feliz – e conta os planos de sua mãe
para libertá-la. Pamina fortalece suas esperanças na libertação ao saber que um
jovem e belo
príncipe se encontra
a caminho para tirá-la das garras do poderoso Sarastro. Ignorando a real
história de seu cativeiro, a real personalidade de Sarastro e seguem as
orientações da Rainha da Noite, cujas intenções também ignoram. Quando pela
primeira vez se encontram, por sinal, Pamina e Tamino cantam em dueto uma
belíssima ode ao amor sublime entre um homem e uma mulher.
Entrementes, Tamino,
guiado pela magia dos três Gênios da Floresta, chega aos domínios de Sarastro.
Antes de prosseguir na sua missão, recebe ele a recomendação de observar três
virtudes essenciais: firmeza, paciência e sigilo. “Empenhe-se como
verdadeiro homem e conseguirá seu objetivo”. Pamino chega a um bosque
no qual se erguem três templos muito belos. Colocados lado a lado, no da
esquerda está escrito “Natur” – Templo da Natureza, “Weisheit” – Templo da
Sabedoria – “Vernunft” – Templo da Razão. Em dúvida sobre qual dos templos
detém o ideal que busca e já partindo para o processo de tentativas, Tamino
está prestes a bater à porta do Templo da Natureza quando escuta um coral que
lhe barra a entrada dizendo: “Zurük” – para trás! A seguir prestes a
bater à porta do Templo da Razão escuta novamente: “Zurük” - para trás!
Finalmente, ao bater à porta do Templo da Sabedoria a porta se abre e um velho
sacerdote, ricamente trajado em vestes brancas e com voz suave se dirige a
Tamino: “ Que traz você aqui,
jovem audacioso?
Que procuras neste
local sagrado?” Tamino lhe revela suas intenções: quer libertar a princesaPamina
das mãos do cruel feiticeiro Sarastro. O Sacerdote percebe que Tamino é movido
pelo Amor mas que está mal informado acerca de Sarastro. Passa a buscar
desfazer a imagem errônea que dele faz Tamino. Este insiste em saber onde a
princesa se encontra tendo por toda a resposta o silêncio.
Fica aliviado ao
saber, contudo, por vozes estranhas ao templo, que ela ainda vive. O sacerdote
se afasta e Tamino agora resolve tocar a Flauta Mágica, sua arma salvadora.
Papageno, ao longe, ouve o som e lhe responde com a sua flauta de caçador de
pássaros. Fica imaginando se Papageno teria encontrado Pamina. Em instantes
Papageno entra em cena com Pamina – livre de suas correntes – orientado que
fora pelo som da Flauta Mágica. Monostatos segue a ambos, com auxílio dos
escravos e os alcança já próximos de Tamino. Estão prestes a aprisioná-los
quando Papageno se recorda de sua arma mágica, o “glockenspiel”,
e o toca. Ao som de uma dança alegre e saltitante os bandidos saem dançando,
como que enfeitiçados.
Pamina, Tamino e
Papageno estão respirando aliviados quando um som de trombetas anuncia a chegada
de Sarastro. Papageno teme por sua sorte e Pamina julga-se perdida. Afinal,
acabara de fugir de Monostatos, que o mantinha cativa por ordem de Sarastro.
O séqüito de Sarastro
chega ao local em que se encontram. Sarastro, saudado pelo coral, entra em
cena. O coral diz: “O homem sábio o aclama, o falso aprende a temê-lo. Com
paciência ele nos guia para a Sabedoria e para a Luz. Pois ele é nosso líder,
proclamando a retidão.”
Monostatos conta a
Sarastro a sua versão dos eventos recentes. De como aquela “estranha ave” –
Papageno – o havia surpreendido e retirado Pamina de seus olhos. Sarastro
compreende tudo e ordena que dêem “77 chibatadas” nos pés de Monostatos, que
sai carregado por outros escravos para a sua punição.
Pamina se aproxima do
Grão Sacerdote Sarastro e confessa sua transgressão, seu desejo de escapar para
voltar ao convívio de sua mãe. Revela ainda o assédio que vinha sofrendo por parte
do mouro Monostatos. Sarastro informa compreender suas intenções e que não
poderia se interpor entre ela e seu anseio de amar. Ressalta, contudo, que não
poderá, ainda, libertá-la. Revela quem de fato é sua mãe e seus planos para
destruir a fraternidade de Ísis e Osíris – propõe-se a manter
Pamina a seus cuidados e dos membros daquela fraternidade.
Papageno e Tamino
percebem que tinham uma impressão equivocada sobre Sarastro, impressão neles
inculcada pela Rainha da Noite, e agora, admirados com Sarastro e a irmandade
de Ísis e Osíris manifestam sua vontade de também serem membros. Sarastro lhes
informa que, neste caso, deverão passar por um julgamento e uma série de
provas a fim de que sejam aceitos. Têm início aqui os preparativos para a Iniciação
de Tamino e de Papageno que, com a cabeça recoberta por espessa venda, saem de
cena.
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