Depois de ridicularizar tantas pessoas, durante tantos anos, por não
serem progressistas, o Sr Shaw, com um senso que lhe é peculiar, descobriu ser
bastante duvidoso que qualquer um dos seres humanos bípedes existentes consiga
ser progressista. Chegou a duvidar se a humanidade poderia ser combinada com o
progresso, pois muitas pessoas que se satisfazem facilmente teriam escolhido
abandonar o progresso e permanecer com a humanidade. O Sr Shaw, não se
satisfazendo facilmente, decide jogar fora a humanidade com todas as limitações
e, buscando o próprio interesse, aposta no progresso. Se o homem, como o
conhecemos, é incapaz de uma filosofia do progresso, inquire o Sr Shaw, não o
seria para um novo tipo de filosofia, mas para uma nova espécie de homem. É como
se a babá tivesse tentado alimentar, durante alguns anos, o bebê com uma comida
amarga e, ao descobrir que tal comida não era adequada, não a jogasse fora e
pedisse algo novo, mas jogasse o bebê pela janela e pedisse um novo bebê. O Sr
Shaw não pode entender que a coisa mais valiosa e adorável aos nossos olhos é o
homem – o velho bebedor de cerveja, criador de credos, batalhador, falível,
sensual e respeitável. E as coisas encontradas nessa criatura permanecem
imortais; as coisas encontradas na fantasia desse super-homem morreram com as
civilizações agonizantes que o criaram. Quando Cristo, num momento simbólico,
estabeleceu sua grande sociedade, não escolheu para pedra fundamental nem o
brilhante Paulo nem o místico João, mas um embusteiro, arrogante e covarde –
numa palavra, um homem. E sobre esta pedra construiu sua Igreja, e as portas do
Inferno não prevalecerão. Todos os impérios e reinos se desvanecerão, pela
fraqueza inerente e contínua de terem sido erigidos sobre homens fortes. Mas
aquilo que é único, a Igreja cristã histórica, foi edificada sobre um homem
fraco, e por essa razão é indestrutível. Pois nenhuma corrente é mais forte que
o mais fraco dos elos.
G. K. Chesterton,
Hereges
enviado por Ir. L. Couri
Nenhum comentário:
Postar um comentário