Ao lado da preocupação com o enigma da origem, figura para o homem, como grande mistério, a morte
individual, associada ao temor da extinção de todo o povo e mesmo do desaparecimento do universo
inteiro. Para a Mitologia, a morte não aparece como fato natural, mas como elemento estranho à criação
original, algo que necessita de uma justificação, de uma solução em outro plano de realidade. Três
explicações predominam nas diversas mitologias. Há mitos que falam de um tempo primordial em que a
morte nã o existia e contam como ela sobreveio por efeito de um erro, de castigo ou para evitar a
superpopulação. Outros mitos, geralmente presentes em tradições culturais mais elaboradas, fazem
referência à condição original do homem como ser imortal e habitante de um paraíso terreno, e apresentam
a perda dessa condiçã o e a expulsã o do paraíso como tragédia especificamente humana. Por fim, há o
modelo mítico que vincula a morte à sexualidade e ao nascimento, analogamente às etapas do ciclo de vida
vegetal, e que talvez tenha surgido em povos agrícolas.
A idéia do julgamento dos mortos, sua absolvição ou condenação predominou no antigo
Egito. Conforme descrito no papiro Ani, o coração do morto era levado à presença de Osíris
num dos pratos de uma balança, para que fosse pesado em comparaçã o com o que se
considera justo e verdadeiro: uma pena do deus Maat (simbolizado pela figura de um
avestruz) era posta no outro prato da balança. Os Hebreus, ao contrário, nã o tinham, até o
século II a.C., uma idéia clara a respeito de um julgamento último e seu correspondente
castigo ou recompensa: os escritos do Antigo Testamento mencionam apenas uma existência
ultraterrena num mundo de penumbra (sheol). Similarmente, o pensamento mítico grego,
conforme explicitado por Homero, concebia a morte como uma desintegraçã o, da qual apenas
uma espécie de fantasma (eidolon) descia ao Hades, onde levava uma existê ncia infeliz e
inconsciente. Já os mistérios de Elê usis, ao contrário, prometiam aos iniciados a felicidade
supraterrena, enquanto a filosofia platônica e o orfismo (seguindo, provavelmente, tendências
orientais) anunciavam a reencarnação. Zoroastro (século VI a.C.) falou de Chinvat, uma ponte
a ser atravessada após a morte, larga para os justos e estreita para os perversos, que dela caíam
no inferno. O zoroastrismo posterior elaborou a idéia de prêmio e castigo, de ressurreição dos
mortos e de purificação final dos pecadores.
Os mitos retratam freqüentemente o fim do mundo como uma grande destruição, de natureza
bélica ou cósmica. Antes da destruição, surge um messias ("Ungido") ou salvador, que resgata
os eleitos por Deus. Esse salvador pode ser o próprio ancestral do povo ou fundador da
sociedade, que empreende uma batalha final contra as forças do mal e, após a vitória,
inaugura um novo estágio da criaçã o, um novo céu e uma nova terra. Os mitos da destruição
escatológica manifestaram-se tardiamente, na literatura apocalíptica judaica, que floresceu
entre os séculos II a.C. e II d.C., e deixou sua marca no livro do Apocalipse, atribuído ao
narrativas a respeito de grandes inundações. É bastante conhecido o episódio do Antigo
Testamento que descreve um dilúvio e o apresenta como castigo de Deus à humanidade. Esse
tema tem origens mais remotas e provém de Mitos Mesopotâmicos. Em quase todas as
culturas pré-colombianas encontram-se também mitos a respeito de dilúvios.
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