Dar fruto em abundância
Tenho de advertir cada um de vós
a respeito da sua vinha; com efeito, quem de vós cortou já em si mesmo tudo o
que é supérfluo, a ponto de poder pensar que nada mais tem de cortar? Crede no
que vos digo: aquilo que é cortado renasce, os vícios combatidos regressam, e
vemos despertar as tendências adormecidas. Não basta, pois, aparar a vinha uma
vez, temos de voltar muitas vezes à mesma tarefa, se possível a toda a hora.
Porque, se formos sinceros, encontramos constantemente em nós coisas a cortar.
[…] A virtude não consegue crescer entre os vícios; para que ela possa
desenvolver-se, temos de os impedir de aumentar. Suprimi, pois, o supérfluo, e
o necessário poderá então surgir.
Para nós, irmãos, continua a ser
época de cortar, uma época que se impõe em permanência. Com efeito, estou certo
de que já saímos do Inverno, desse temor sem amor que a todos nos introduz na
sabedoria, mas que a ninguém faz desabrochar na perfeição. Quando surge, o amor
expulsa esse temor como o Verão expulsa o Inverno. […] Cessem, pois, as chuvas
do Inverno, quer dizer, as lágrimas de angústia suscitadas pela recordação dos
vossos pecados e pelo temor do julgamento. […] Se «o Inverno passou», se «a
chuva cessou» (Ct 2, 11) […], a doçura primaveril da graça espiritual
indica-nos que chegou o momento de podarmos a nossa vinha. Que nos resta fazer,
senão empenharmo-nos por completo nessa tarefa?
Por São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja
Sermão 58 sobre o Cântico dos
Cânticos
Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão
A ordem foi fundada em Jerusalém,
no ano de 1119. Seu propósito era dar proteção aos peregrinos cristãos na Terra
Santa. A cidade tinha sido conquistada pelos cruzados em 1099, mas chegar até
lá continuava sendo um problemão. Ela era praticamente uma ilha, cercada de
muçulmanos por todos os lados. A solução, proposta pelo cavaleiro francês Hugo
de Payns, agradou ao rei de Jerusalém, Balduíno 2º: criar uma força militar
subordinada à Igreja. A idéia era inédita. Até então, existiam monges de um
lado e cavaleiros de outro.
“Payns inventou uma nova figura,
a do monge-cavaleiro”, diz Marion Melville, autora de La Vida Secreta de los
Templarios (sem tradução para português). O exército seria formado por frades
bons de espada, que fariam, além dos votos de pobreza, castidade e obediência,
um quarto juramento: o de defender os lugares sagrados da cristandade e, se
necessário, liquidar os infiéis. Balduíno alojou-os no local onde outrora fora
construído o mítico Templo de Salomão. Daí o nome do grupo: templários.
Em 1129, a ordem recebeu
aprovação do papa no Concílio de Troyes. Em 1139, veio a consagração
definitiva: uma nova bula papal isentava os templários da obediência às leis
locais. Eles ficariam submetidos, dali em diante, somente ao sumo pontífice. “Apesar
da bravura reconhecida, os templários muitas vezes foram censurados por seu
orgulho e arrogância”, afirma o historiador francês Alain Demurger no livro Os
Templários: Uma Cavalaria Cristã na Idade Média.
Os Cavaleiros do Templo, também,
eram proibidos de se confessar a outros que não fossem os capelães templários.
Igualmente, o livro da Regra – que tinha sido escrita por ninguém menos que São Bernardo de Claraval.
Mitos e lendas: As histórias mais fantásticas envolvendo os templários
SANTO GRAAL
A Ordem do Templo teria sido
fundada pelo Priorado do Sião e guardou o segredo da filha bastarda de Jesus
Cristo. “Isso é uma invenção do anti-semita Pierre Plantard, em 1956”, afirma o
historiador italiano Massimo Introvigne.
ARCA PERDIDA
Os templários supostamente
escavaram o Templo de Salomão e encontraram a Arca da Aliança. E ainda teriam
descoberto os segredos dos primeiros maçons. “É tudo fantasia”, garante o
especialista Alain Demurger.
TESOUROS DO TEMPLO
O Manuscrito Copper, encontrado
na região do mar Morto, revelaria a localização dos tesouros do Templo de
Salomão e teria sido descoberto pelos templários. “É lenda”, diz o historiador
Kenneth Zuckerman.
Para saber mais
• Os Templários: Uma Cavalaria
Cristã na Idade Média
Alain Demurger, Difel, 2007.
• Templários: Os Cavaleiros de
Deus
Edward Burman, Nova Era, 1997.
Por dentro da ordem do templo
QUEM ERA QUEM
Os homens que defenderam
Jerusalém em nome de Cristo.
Pader
Os membros combatentes da ordem,
apesar de sua formação de monge, eram quase sempre analfabetos e com pouco
conhecimento de teologia ou das Escrituras. Por isso, as missas, confissões e
outras cerimônias religiosas eram presididas por padres que viviam nos
estabelecimentos templários.
Cavaleiro
Geralmente de origem nobre, era o
membro da ordem por excelência: tanto um guerreiro experiente, treinado para
combater a cavalo com armadura pesada, quanto um monge ordenado, com votos de
pobreza, obediência e castidade. Os cavaleiros templários nunca foram mais do
que 10% dos integrantes.
Soldado
Os templários também recrutavam
soldados leigos, que não eram monges e, na Terra Santa, podiam até ser cristãos
de origem síria. Nenhum deles era obrigado a seguir os votos de castidade dos
cavaleiros – alguns, inclusive, eram casados. Havia também irmãos leigos que
realizavam tarefas domésticas.
ENTRE O BEM E O MAL
A história dos templários está
associada a santos e demônios.
SANTO
São Bernardo foi o melhor amigo dos templários. Afinal, nos
primórdios da ordem, eram muitos os que achavam que matar infiéis não era algo
muito cristão. Ao publicar a defesa doutrinal do grupo, em 1135, Bernardo
convenceu a todos da necessidade de fazer justiça pela espada. Sobrinho de um
membro da ordem, foi cavaleiro antes de seguir carreira religiosa. Morreu em
1153 e virou santo 20 anos mais tarde.
DEMÔNIO
Um dos símbolos mais enigmáticos
associados aos templários é o de Baphomet. “O nome vem de Maomé”, diz o
historiador Malcolm Barber. Seria a encarnação do Diabo. Para outros
estudiosos, contudo, representaria os santos dos primórdios da Igreja. Na Idade
Média, prevaleceu a versão mais sinistra. Os templários empregariam a figura em
seus ritos. Mas tudo não passa de uma lenda, jamais comprovada.
INFÂMIA SECULAR
A insígnia da Ordem do Templo –
dois cavaleiros dividindo a mesma sela – acabou sendo usada para difamar os
templários, acusados de homossexualidade e outras práticas mundanas nos anos
finais da cavalaria. Na verdade, o emblema simbolizava humildade: a pobreza não
permitiria uma montaria para cada cavaleiro.
por Luiz Couri